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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Entrevista Exclusiva com Renato Santos

Por Rafaella Oliveira

Renato Santos retornou ao Aprendiz Celebridades como conselheiro de Roberto Justus. Depois de uma participação muito elogiada na temporada anterior, o desafio de aconselhar Roberto em uma edição com 15 celebridades o deixou entusiasmado: "... a escolha de tarefas que continuaram ligadas ao mundo corporativo me deixou à vontade para analisar dentro da minha esfera de conhecimento, e foi essa a expectativa que os diretores e o Roberto me colocaram.".


Ele comenta sobre as polêmicas da final - a quase desistência de Amon Lima -, por exemplo, o que deve ser levado em consideração em um bom profissional e diz que o Aprendiz é a reunião de 3"Ps" - e você descobrirá quais são. 

Em uma entrevista que mescla nosso programa favorito e o mundo dos negócios, Renato Santos esclarece dúvidas sobre o Aprendiz e sobre empreendedorismo. 

Confira!

Agradecemos pela atenção sempre, Renato! 



(Mailson Eduardo) Renato, em uma das salas de reunião do Aprendiz Celebridades você disse que os grandes empreendedores que fazem diferença de verdade são capazes de colocar o mercado a serviço da sua visão. Gostaria de saber de você um exemplo bem definido de como esses empreendedores fazem isso.

​​(Renato Santos) ​​Todos sabemos que as necessidades do consumidor são o verdadeiro eixo ao redor do qual o mercado se movimenta; o que existe são formas diferentes de atendê-las. Geralmente, as empresas se organizam em torno de um tipo de solução vencedora, e concebem uma “indústria” – um conjunto de empresas que provê soluções similares para essas necessidades ou problemas. O tempo passa, e o mercado deixa de ser formado por empresas que resolvem problemas para ser povoado por empresas que fornecem um dado tipo de solução – ou seja, elas acabam se distanciando da motivação original que leva o consumidor a adquirir seus produtos ou serviços.

O que os grandes empreendedores fazem é manter uma conexão inabalável com as necessidades originais dos consumidores. Eles fazem isso com tanta força e naturalidade que são capazes de conceber segmentos novos de mercado, ao encontrar soluções simples para as necessidades ou problemas. O exemplo hoje já clássico é o lançamento do iPod pela Apple de Steve Jobs, subvertendo a lógica da indústria fonográfica. Exemplos mais antigos incluem o conceito de fast-food popularizado pelo McDonald’s de Ray Kroc (e a “mágica” de ter a sua refeição pronta antes mesmo que você a escolha); ou a prevalência do software sobre o hardware concebida pela Microsoft de Bill Gates (com a inclusão do sistema operacional virtualmente de graça nos PCs da IBM, décadas atrás). Outros exemplos mais modernos incluem a concepção do modelo low-cost de voar por companhias aéreas como a RyanAir e a Easy Jet (entre outras), até chegarmos a apostas ousadas como o AirBnB e sua visão de mudança no conceito de hospedagem com a “Bélo”. E, é claro, a esta percepção tão aguçada das necessidades do consumidor junta-se a ousadia e capacidade realizadora para transformar a visão em realidade.

(Clariana Albuquerque , adaptada pelo Coelhocratas e Elisangela Moreira Luciano) Renato, como surgiu o convite para você ser conselheiro do  Aprendiz Celebridades? Como você encarou o desafio? Se surpreendeu? Você ja está confirmado para a próxima temporada?

​​(Renato Santos) ​​Fiquei muito surpreso com o convite. Na temporada anterior participei por indicação do SEBRAE, instituição à qual sou ligado há 21 anos e que patrocinou aquela edição. Nesta temporada o SEBRAE não foi patrocinador, e por este motivo eu não esperava ser convidado.
Receber o convite da direção do programa me deixou muito entusiasmado. De início, não me senti apreensivo em razão da experiência no ano passado. À medida em que a estréia foi se aproximando e passei a estudar melhor os participantes, fiquei preocupado por tratar-se de pessoas públicas, muitos deles com grande experiência na televisão. No entanto, a escolha de tarefas que continuaram ligadas ao mundo corporativo me deixou à vontade para analisar dentro da minha esfera de conhecimento, e foi essa a expectativa que os diretores e o Roberto me colocaram.
Quanto à próxima temporada, um eventual convite para participar dependerá dos objetivos do programa, da adequação do meu perfil a eles e ao tipo de análise que o Roberto desejar para suas decisões.


(Luana Albino ) Renato, você teve uma receptividade muito grande pelo público, você esperava se destacar como conselheiro ou isso te surpreendeu ?

​​(Renato Santos) ​​Surpreendeu e surpreende sempre que penso nisso. Pessoalmente não sou uma pessoa extrovertida e, ao receber o convite pela primeira vez, temi não me sair bem em função da timidez ou do receio com o novo formato. As reações positivas – especialmente dos Coelhocratas, grupo do qual gosto muito – me encorajaram bastante e me ajudaram a ficar à vontade no papel de Conselheiro. Ajudou também a recepção da equipe de produção, dos colegas com quem trabalhei (Walter e Cacá), dos diretores do programa e principalmente, do Roberto – que sempre interagiu comigo de forma positiva e encorajadora, mesmo quando decidia de forma contrária aos conselhos que ofereci.


(Diego Brandão Nunes) Renato, você com o Aprendiz entrou para o mundo da Televisão, é uma figura conhecida já, começou com participações nos programas, tornou-se conselheiro e ganhou grande destaque, ou seja, você vem em uma ascendência na televisão, sendo cada vez mais reconhecido e admirado. Sobre isso, você pensa em novos projetos no futuro com a televisão ou qualquer outro meio de comunicação que possibilite a você interagir e ensinar o grande público? Se sim, o que seria?

​​(Renato Santos) ​​A TV é um veículo poderoso, e o Aprendiz é um programa com uma equipe maravilhosa. Tudo isso me deu grande prazer em trabalhar e possibilitou muito aprendizado. Por outro lado, reconheço que ainda teria que evoluir muito e em vários aspectos para me candidatar a novos projetos.
Com relação a outros meios de comunicação, atuo há pouco mais de um ano nas rádios CBN, Band News e Jovem Pan SP com o Minuto SEBRAE. Neste programa apresentado semanalmente, forneço dicas sobre gestão de negócios e oportunidades; sobre soluções SEBRAE para as necessidades dos pequenos negócios; e respondo às dúvidas dos ouvintes. Gosto muito da atividade, que tem uma conexão forte com a realidade das PMEs brasileiras. Além disso, antes do Aprendiz tive algumas outras experiências (uma na Record em 2012, em algumas edições do programa “Hoje em Dia”; e outra na Rede Globo em 2010, no quadro “Negócio Fechado” do programa “Caldeirão do Huck” – ambas como consultor do SEBRAE).
A exposição obtida com o trabalho no Aprendiz aumentou o interesse e a audiência das minhas palestras, uma atividade que exerço há vários anos e da qual gosto muito, e que em outra escala já permitia uma conexão com o público empresarial e corporativo.


(Vinícius D'Ávila ) Renato, como você avalia a percepção do público? Nessa temporada tivemos o terceiro conselheiro, vocês levam em consideração o que o público pensa? Não acha que por se tratar de celebridades já conhecidas, umas mais outras menos, esse critério pode afetar diretamente na aceitação do público de um ou outro participante e consequentemente, interferir na decisão do "terceiro conselheiro"?

​​(Renato Santos) ​​As perguntas do terceiro conselheiro foram analisadas com muita atenção no decorrer do programa. O Ricardo Justus, diretor responsável por essa interação, selecionava as principais questões para ir ao ar – mas sempre trazia ao Roberto muitas outras que funcionavam como termômetro da opinião e das percepções dos espectadores do Aprendiz. Além disso, as respostas dos Aprendizes possibilitavam uma leitura melhor do seu comportamento, desempenho e intenções – e sem dúvida eram consideradas no processo de decisão do Roberto, e de aconselhamento tanto meu quanto do Cacá.
Com relação à influência da popularidade prévia (ou maior simpatia de um participante sobre os outros) na avaliação do terceiro conselheiro, imagino que isso realmente possa ocorrer. No entanto, estávamos no Aprendiz Celebridades – a conexão com o público era um pré-requisito para participar do programa. Neste sentido, entendo ser lícito que esse critério influencie a avaliação do público. Quanto aos Conselheiros, o Roberto sempre exigiu que nossas observações e avaliações se ativessem ao desempenho durante as tarefas, e não tenho dúvidas de que ele também pensou e agiu tendo a performance, perfil e personalidade apresentados dentro do programa como únicos critérios de avaliação.


(Flávia Cabral) Renato, muitas pessoas gostaram bastante da frase que você disse para o Amon no final do Aprendiz Celebridades. Talvez ela tenha sido o elemento essencial para a continuidade do Amon no programa. Você possui mais alguma frase que gosta e que te serve de inspiração?

​​(Renato Santos) ​​Eu pessoalmente também gosto muito dessa frase, que conheci praticando triatlo e que já me inspirou em muitos momentos. Tenho várias frases a que recorro como fonte de inspiração, mas a relevância de cada uma depende da situação a que é aplicada, e não das palavras em si. Neste sentido, acho que seria vazio citar exemplos fora de contexto – mas, para os que se interessarem em ampliar o repertório, o Tiago Matos da Perestroika (escola de criatividade de Porto Alegre) posta regularmente vídeos no YouTube, alguns compilando frases motivacionais; o vídeo “35 Conselhos para quem quer ser um Empreendedor Criativo” é um bom exemplo. Também no YouTube, o canal da Endeavor Brasil (instituição de apoio ao empreendedorismo de alto impacto) possui vídeos interessantes com frases e cases inspiradores de empresários brasileiros e de outros países.


(Lucas Lattari) Renato, muitos fãs questionaram a vitória da Ana Moser, já que nas últimas tarefas individuais, o Amon foi vitorioso e a Ana ficou em último lugar 2 vezes. Não apenas isso, ele não perdeu como líder e foi superior a Ana em número de vitórias. Você concordaria que o desempenho do Amon foi superior ao da Ana e que ele perdeu pela falta de equilíbrio emocional? O que mais fez valer a sua indicação pela vitória dela?

​​(Renato Santos) ​​É fato que o desempenho do Amon nas duas últimas tarefas foi superior ao dos demais concorrentes, inclusive a Ana – mas não acho que isso justifique por si uma alegação de superioridade dele sobre os outros dois.
Na verdade, também houve critérios quantitativos a partir dos quais o desempenho da Ana foi superior (ela sofreu 4 derrotas nas tarefas, enquanto Amon e Christiano sofreram 5; e foi indicada 3 vezes à segunda parte da sala de reunião, enquanto Amon e Christiano foram levados 5 vezes) – e menciono isso aqui apenas para ilustrar minha opinião de que, no quesito Performance, os três competidores estavam muito próximos, já que também há critérios pelos quais o Christiano foi superior.
… O que nos leva aos outros dois critérios que usei para avaliar os Aprendizes, conforme mencionarei em uma questão abaixo – o Perfil e a Personalidade.
A princípio parecem similares, mas entendo os dois critérios por lógicas diferentes: o Perfil se relaciona ao estilo de trabalho e formação / experiência prévia (ou aproveitamento das experiências anteriores no próprio programa); e a Personalidade, à capacidade e autocontrole ao se posicionar, argumentar e reagir às situações colocadas – especialmente na sala de reunião.
No critério Perfil, ainda acho que as diferenças são pouco importantes, mas neste caso eu apontaria o Christiano como o melhor finalista, em razão de motivos que expus ao fazer minha indicação ao Roberto na sala de reunião final. Na minha percepção, o que desequilibrou a balança a favor da Ana de forma incontestável foi a Personalidade, já que tanto Amon quando Christiano tiveram momentos em que este critério foi abalado, como aprofundarei abaixo ao responder a questão sobre a conversa com o Amon.


(Diego Brandão Nunes) Renato, muitos fãs do programa (me incluo neles) admiram as suas colocações e avaliações pertinentes nas mais diferentes situações, cada vez mais tem se tornado claro o nível de qualidade e excelência que você busca nos aprendizes. Sendo considerado às vezes tão firme quanto o Justus e algumas vezes até mais. Como você vê isso? Acha que realmente o seu olhar para os aprendizes tem se tornado mais exigente? Obrigado e parabéns pelo seu trabalho.

​​(Renato Santos) ​​Obrigado pelo elogio!
Na verdade acho que, ao participar pela segunda temporada, eu havia acumulado um aprendizado com a anterior – e isso me possibilitou ser mais objetivo. Ao mesmo tempo, também me senti mais à vontade, e isso fez com que eu me soltasse mais ao comentar e intervir na sala de reunião.
Tenho grande respeito por todos os Aprendizes que conheci nas duas temporadas, e muitas vezes me admiro ao pensar que, no lugar deles, seria muito difícil obter os mesmos resultados. Por isso, não acho que tenha me tornado mais exigente, apenas tenha estado mais concentrado no resultado final do trabalho que eles entregaram.
Roberto é o tomador de decisão – nesta posição, precisa refletir com mais cuidado e precaução para se assegurar da melhor escolha. No meu caso, o papel foi bem menos complexo - e é natural que conselheiros ou consultores tenham opiniões mais enfáticas, justamente porque estão buscando influenciar quem decide. Por isso, entendo que a comparação com o Roberto não seja adequada, já que na minha posição tive bem menos responsabilidades que ele, e não tive o dever de ser imparcial.


(Endrik Raphael) Renato, desempenho ou perfil?

​​​​(Renato Santos) ​​Sem dúvida, ambos. Selecionar pessoas em situações que permitem observar os dois critérios – como é o caso no Aprendiz – sem considerá-los igualmente seria uma irresponsabilidade.
Por isso, acredito que a discussão "desempenho x perfil" seja incompleta. Há uma anedota corporativa que diz que perfil significa “prometer sem cumprir”, enquanto desempenho seria “cumprir sem prometer” – ou seja, para prometer e cumprir é preciso integrar as duas qualidades, associando um indivíduo bem formado e com estilo de trabalho eficaz (perfil) com entregas consistentes e precisas (desempenho). Este será um profissional realmente valioso para qualquer negócio.
No Aprendiz, aos dois critérios podemos somar ainda a personalidade, aqui entendida como a forma, firmeza e clareza de argumentação (e por isso diferente do perfil, que aqui traduz formação e estilo de trabalho). Ainda considerando o Aprendiz, pode-se afirmar que esta capacidade está associada à atuação durante as salas de reunião, quando os participantes são questionados e intencionalmente pressionados, às vezes contra os próprios colegas.
Assim, trocando “desempenho” pelo sinônimo, acredito que o bom resultado no Aprendiz seja função de 3 “Ps”: Performance, Perfil e Personalidade.


(Elisangela Moreira) Renato, na sua visão de empreendedor de sucesso qual a característica mais importante para se fechar um grande negócio, e ao longo do programa qual dos participantes deixou mais a desejar nesse quesito?

​​(Renato Santos) Esta é uma pergunta difícil, porque não acredito que apenas uma característica seja determinante. Minha opinião é que fechar ou gerir um grande negócio demanda diversas capacidades empreendedoras, que sintetizarão as habilidades de planejamento, de realização e de influência – esta última inclui também as capacidades de liderança e negociação.
O americano David McClelland (um dos pais da psicologia organizacional) sintetizou 10 características de comportamento empreendedor a partir de uma pesquisa com empresários de sucesso em todo o mundo: essas características são trabalhadas no programa Empretec da UNCTAD (ONU), presente em 34 países e no Brasil desenvolvido pelo SEBRAE – do qual sou consultor e de cuja última versão brasileira e internacional sou também um dos autores.
Mas, para não deixar a pergunta sem resposta, acredito que a característica mais importante para fechar um grande negócio seja a autoconfiança. Observá-la é tarefa complexa, porque as pessoas frequentemente a confundem com arrogância. A primeira se traduz em serenidade e consciência dos próprios objetivos e habilidades; a segunda se traduz em insegurança e na vontade de “ganhar no grito”. Acho que todos os concorrentes demonstraram autoconfiança em determinados momentos (quando a tarefa era coerente com suas habilidades); e alguns demonstraram arrogância quando quiseram prevalecer, mesmo sem base para tanto. Ao invés de citar um exemplo negativo, prefiro ficar com o lado positivo desta característica, que enxerguei na vencedora Ana Moser.


(Julio Silveira) Renato, como foi a conversa com o Amon? Ele realmente iria deixar o programa? Como conseguiu convencê-lo? Parabéns pela atitude!!

​​(Renato Santos) Agradeço e fico lisonjeado com o cumprimento, mas na verdade não acredito que o Amon desistiria, mesmo que não tivéssemos conversado.
Entendo que ele passou por um momento de hesitação e, em uma reação normal e compreensível, quis ficar sozinho por algum tempo – o que acabou potencializando sua angústia. Supondo que eu não tivesse atendido o pedido e Amon decidisse ir em frente, provavelmente comunicaria a decisão à sua equipe, e acredito que seria encorajado a voltar atrás pelos próprios companheiros. Em particular, acho que o Raul não o permitiria desistir – menciono isso pela energia que colocou na tarefa, algo que não presenciei nem mesmo quando liderou a Fênix.
Meu papel ao conversar com o Amon foi quase que exclusivamente o de escutá-lo. Por si só, isso já é um redutor de tensão que funciona com quase todas as pessoas. Enquanto falava, o próprio Amon estruturou melhor seus pensamentos e concluiu que não estava desistindo, apenas passando por um momento de tensão emocional. Pouco antes, ele havia conversado com a mãe e sido informado do nascimento do sobrinho. Esses fatos não foram a causa, mas apenas o estopim para que a tensão acumulada no programa transbordasse. Me lembrei das situações de tensão que já enfrentei – todos nós as temos, aliás – e disse a ele a frase comentada acima, que sempre me inspira e o inspirou também.
Apesar disso, é claro que este momento teve um custo para o Amon. Não no sentido de ele não merecer mais ganhar por ter hesitado, como alguns espectadores comentaram – quem pode se dizer imune à hesitação? – mas no sentido de ter exposto o próprio esgotamento emocional. Isso é um fator que tem peso na comparação entre os candidatos, e que nem Ana Moser e nem Christiano Cochrane demonstraram. Conforme mencionei acima, este não foi o ponto principal que considerei na minha recomendação, mas sem dúvida não pude deixar de notá-lo (assim como não pude ignorar as dificuldades de relacionamento do Christiano com Nahim e Raul, por exemplo).


(Vinícius D'Ávila) Renato, nas 5 últimas temporadas, as vencedoras foram mulheres. Acha que é coincidência ou as mulheres tem um perfil mais competitivo que os homens, fazendo com que se saiam melhor no programa?

​​(Renato Santos) Acredito que a predominância de mulheres entre as vencedoras reflete a “feminilização” do ambiente empresarial. O comentário é a um só tempo honesto e irônico, porque as habilidades tipicamente femininas de negociação, flexibilidade e multitasking são cada vez mais demandadas no mundo corporativo – que, por outro lado, nem de longe se tornou mais acolhedor ou maternal.
A ironia se justifica porque sempre acreditei que é possível a qualquer dos sexos desenvolver qualidades e vícios normalmente associados ao outro, o que torna a questão de gênero irrelevante no ambiente de trabalho, a não ser pelo desafio da superação dos preconceitos.
Em defesa deste argumento, minha opinião é de que a prevalência feminina entre os vencedores não é tão evidente e talvez não tenha relevância estatística: são 6 x 4 em 10 edições, uma diferença aceitável e dentro de um desvio razoável.


(Fabio Teles Gardenal) Olá Renato, você disse - em um dos Hangouts - que nessa edição das celebridades, 2 candidatos tinham um perfil adequado para alcançar o sucesso também no universo corporativo. Como o programa ainda estava no ar, você se reservou ao direito de não dizer quem. Agora que a edição já acabou, quem eram esses participantes?

​​​​(Renato Santos)  ​​Esta questão gerou alguma curiosidade, e foi respondida em um tópico da comunidade Coelhocratas no Facebook. Minha opinião permanece a mesma, e por isso tomei a liberdade de pedir à Rafaella Oliveira que reproduzisse a resposta aqui.

​Quando fiz o comentário, se não me engano comparávamos o perfil dos participantes do Aprendiz Celebridades com o de outros participantes, como os do Retorno. O que mencionei foi que havia dois participantes atuais que certamente, na minha opinião, teriam perfil para atuar no ambiente corporativo. Isso não significa que são melhores ou piores que os demais, apenas que reúnem os atributos que as empresas normalmente valorizam. Para mim, esses aprendizes foram o Pedro Nercessian e a Ana Moser - a pergunta foi feita muito antes da Final. Confirmei depois que Pedro já atua neste ambiente hoje, pois é produtor de eventos bem-sucedido em parceria com o SENAC no Rio de Janeiro, em empresa com outros dois sócios. Ana também já atua no mundo corporativo, pois sua ONG tem várias parcerias com organizações e empresas de grande porte, incluindo o UNICEF, por exemplo. 


(Angela Vauthier) Renato, nessa edição e na edição anterior o seu voto foi para o vencedor do programa. Você acha que sua indicação influenciou a decisão do RJ ou ele já tem a decisão definida independente da indicação do conselheiro?

​​(Renato Santos) ​Um dos benefícios de trabalhar no Aprendiz foi a oportunidade de aprender – sem trocadilho – com um dos grandes players corporativos do Brasil. Sempre busquei entender e estudar a forma como o Roberto decide e a lógica do seu raciocínio, e acho que a resposta a seguir talvez seja parte desse aprendizado.
Todos nós temos nossas inclinações e preferências. Imagino que o Roberto não seja diferente, mas presenciei várias vezes em nossos debates antes das salas de reunião, e posteriormente durante a gravação, o que interpretei como ação deliberada do Roberto em adiar sua decisão ao máximo, não por indecisão mas sim para ter certeza de conhecer todos os fatos antes de escolher.
Também tive a impressão de que o Roberto por vezes começou a sala de reunião com uma inclinação e a alterou durante o curso da discussão (ele mesmo sempre diz que a performance na sala é um fator de análise importante sobre os Aprendizes).
Finalmente houve situações em que, mesmo depois de ouvir as recomendações dos Conselheiros e após a argumentação final dos participantes, Roberto perguntou se gostaríamos de alterar nossos conselhos – assegurando também a nós a prerrogativa de só expressar a opinião depois de conhecer todas as variáveis da situação.
Acho que esses pontos demonstram a importância de não decidir com afobação e ter certeza do domínio dos fatos antes de fazer uma escolha. Parece simples, mas a maior parte dos empresários falha neste quesito e acaba tomando decisões precipitadas e infelizes. O convívio com ele me ajudou a reforçar a importância de manter o sangue-frio antes de decidir e não “atropelar” o amadurecimento da decisão.
Dito isso, acredito ser claro que a minha indicação influenciou a decisão do Roberto. Não só a minha: também a do Cacá e a do terceiro conselheiro. Mais do que isso, influenciaram o Roberto os resultados das equipes, a argumentação na sala de reunião e a convicção e firmeza pessoais demonstrados pelos participantes em sua própria defesa.
Todos esses fatores certamente foram importantes para iluminar as situações a partir de ângulos de visão diferentes, e chamar a atenção dele para aspectos que considerávamos relevantes. Mas não acho que os valores e critérios de decisão do Roberto tenham sido afetados a qualquer momento por nós, pelos próprios Aprendizes ou pela opinião do público.


(Amon Scholles) Eu tenho uma pergunta!! Renato, na tua visão qual foi o ponto fraco do Cristiano, da Ana Moser e do Amon Lima? E qual foi o ponto mais forte de cada um dos 3 finalistas?

​​(Renato Santos) ​​É muito interessante responder a uma pergunta do próprio Amon, com quem tive a oportunidade de conversar apenas uma vez depois da noite final do programa.
Ao analisar a Performance, Perfil e Personalidade dos três durante as 15 tarefas, primeiro é importante reconhecer que eles realmente foram os participantes que mais se destacaram – e o fato de terem superado outros 12 competidores, às vezes mais fortes em um ou outro critério isoladamente, demonstra que todos estavam à altura da vitória nesta edição. Mas claro, eram pessoas diferentes com combinações diferentes entre os três critérios que avaliei.
Acho que o Christiano tinha o Perfil mais forte, baseado na grande inteligência e cultura geral, agilidade de raciocínio e sagacidade. No entanto, para fazer jus ao ditado de que às vezes as bênçãos se tornam maldições, percebi uma certa impaciência com outros colegas não tão agudos, que somada ao protagonismo pessoal que ele tem, fizeram com que tivesse fortes conflitos dentro e fora da equipe. Devo ressaltar que nunca percebi arrogância no seu comportamento, e também nunca achei nem que ele ou Amon fizessem uso excessivo dos seus contatos (respectivamente, Marília Gabriela e Família Lima). Também tive a oportunidade de conversar com ele depois do programa, e fiquei com ótima impressão do seu temperamento: Christiano é divertido e com frequência ri de si mesmo, o que pessoas arrogantes não fazem.
Mencionei acima que as performances foram similares, mas devido à “arrancada” final, entendo que seja justo atribuir ao Amon o melhor resultado neste quesito. A Performance é o critério mais visível aos olhos do espectador do Aprendiz, já que é literal e quase sempre, quantitativa – enquanto os outros dois são menos óbvios e mais subjetivos. Acho que a comoção dos torcedores do Amon ao final do programa talvez se justifique por isso. Este é, no entanto, apenas um dos critérios que forma o tripé de avaliação no qual me apoiei para aconselhar o Roberto – e a diferença não foi tão significativa, como já ilustrei em outra questão, além do que no longo prazo a Perfomance não se sustenta sem perfis e personalidades (especialmente do líder) igualmente fortes, o que acho que não ficou tão evidente no Amon, especialmente quando veio à tona o desgaste pessoal que sofreu ao longo do programa.
E finalmente, temos a Personalidade. Já mencionei acima que considero os competidores muito próximos entre si em todos os critérios, exceto neste – em que, na minha visão, Ana Moser realmente demonstrou clara superioridade. Isso não é uma percepção isolada: os próprios finalistas demonstraram o valor da Ana para suas equipes ao trazê-la para “virar o jogo” de derrotas anteriores. Presenciei seu equilíbrio e serenidade acalmarem discussões acaloradas dentro da Next – em particular, antes da saída do Nahim, já que a equipe alcançou notável sinergia depois disso – e organizarem o ambiente de certa forma “caótico” da Fênix quando ela mudou temporariamente de time. Além disso, de forma contrária à opinião geral dos espectadores, acho que ela soube lidar bem com a pressão recebida das colegas de grupo na tarefa final (para dividir o prêmio em caso de vitória). Ana também não se abalou nem quando teve péssimo resultado na penúltima tarefa (administração da pizzaria) e nem quando, em plena tarefa final, perdeu um membro da sua equipe e teve a performance de outro afetada por razões de força maior – Alexia por uma questão familiar e Beth por motivos de saúde.​​

Um comentário:

Moises Lima disse...


Confesso que fiquei bastante decepcionado pela falta de atenção do Renato em relação aos resultados dos critérios quantitativos do programa. Ele diz na entrevista que a Ana foi superior no quesito "derrotas em tarefas", tendo apenas 4, enquanto o Chris e o Amon tiveram 5. Essa informação não condiz com os fatos, como vcs podem conferir abaixo (ou reassistindo os capítulos).

Número de derrotas:
1º lugar-Ana e Amon (5 derrotas)
(Ana: Escambo, Container, Kit Kat, Pizzaria, Tarefa Final)
(Amon: Feira, Navio, Futebol, Vitória, Caverna)
3º lugar: Chris (6 derrotas)
(Escambo, Container, Kit Kat, Moradores de Rua, Pizzaria, Tarefa Final)

Mais grave ainda é quando ele fala no número de vezes que os competidores foram levados a fase final da sala de reunião, quando ele atribui ao Chris 5 presenças, sendo que ele na verdade teve apenas 3. Três para cinco é MUITA diferença pra se confundir, principalmente se tratando de um conselheiro que tem grande influência no resultado do programa. O Amon realmente foi a fase final da sala 5 vezes, mas a Ana foi 4 vezes, não 3 como ele afirma.

Presença na fase final da sala de reunião:
1º lugar-Chris (3 vezes)
(Escambo, Moradores de Rua*, Pizzaria*)
2º lugar-Ana (4 vezes)
(Circo, Container, Kit Kat, Pizzaria*)
3º lugar-Amon (5 vezes)
(Feira, Navio, Futebol, Vitória*, Caverna*)

*(nestas prova, todos os membros que perderam a tarefa foram levados para a parte final da sala, o que, na minha opinião, reduz consideravelmente o peso do critério)

Como conselheiro, ele obviamente tem todo o direito de usar critérios subjetivos para escolher o candidato que mais lhe agrade, mesmo que esse candidato não tenha sido superior em nenhum critério objetivo. Mas vejo como gravíssimo o fato de ele utilizar, na justificativa de sua escolha, fatos que não condizem com a verdade.

Só a título de curiosidade, seguem abaixo os outros critérios objetivos (fatos) que, na minha opinião, são infinitamente mais relevantes do que os mencionados na entrevista.

Vitórias em tarefas:
1° lugar-Amon (6 vitórias)
(Escambo, Container, Kit Kat, Moradores de Rua, Pizzaria, Tarefa Final)
2º lugar-Ana e Chris (5 vitórias)
(Ana: Navio, Futebol, Vitória, Moradores de Rua, Caverna)
(Chris: Feira, Navio, Futebol, Vitória, Caverna)

Vitórias em provas do líder:
1° lugar-Chris e Ana (3 vitórias, 0 derrotas)
(Chris: Escambo, Futebol e Caverna)
(Ana: Container, Vitória e Pizzaria)
3º lugar-Amon (1 vitória, 1 derrota)
(Vitória: Moradores de Rua
Derrota: Escambo)

Vitórias como líder:
1º lugar-Amon (4 vitórias, 0 derrotas)
(Escambo, Moradores de Rua, Pizzaria, Tarefa Final)
2º lugar-Chris (2 vitórias, 3 derrotas)
(Vitórias: Futebol, Caverna
Derrotas: Escambo, Pizzaria, Tarefa Final)
3° lugar-Ana (1 vitória, 3 derrotas)
(Vitórias: Novela "Vitória"
Derrotas: Container, Pizzaria e Tarefa Final)

Tarefa semifinal individual: (sem companheiros de equipe e contatos)
1º lugar-Amon (+128% de faturamento)
2º lugar-Chris (+35% de faturamento)
4° lugar-Ana (+3% de faturamento)

Tarefa final:
1º lugar-Amon (R$ 291.249,80)
2º lugar-Chris (R$ 209.137,50)
3º lugar-Ana (R$ 183.679,59)

Votação do público:
1º lugar-Amon (56%)
2º lugar-Ana (33%)
3º lugar-Chris (11%)

Campeã: Ana Moser
2º lugar: Chris e Amon